sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Serenata



Serenata

A Serenata, também conhecida como Seresta ou Sereno, consiste em uma manifestação cultural brasileira na qual em um grupo de músicos anda pelas ruas de uma cidade e detêm-se às janelas de certas casas a fim de tocar e cantar. Este conjunto costuma ser vocal e/ou acompanhado de instrumentos musicais, sendo característica sua execução durante à noite, ao ar livre, sob o sereno, sendo direta ou indiretamente direcionadas a uma mulher. Os instrumentos musicais utilizados são a viola e a guitarra.








Seresteiro sozinho

Ao encontrar a casa que receberá a homenagem, o grupo de seresteiros apresenta-se através do prelúdio. A seguir começam as execuções das canções, geralmente com a homenageada postada na janela ou na soleira da porta de entrada com muitas pessoas assistindo e participando do ato.



As músicas possuem forte apelo amoroso e declamatório. Veja a composição a seguir:




UMA GRANDE DOR NÃO SE ESQUECE
(Antenógenes Silva-Ernani Campos)

Choro a lágrima fremente,
o pranto cruciante
que rola internamente...
Choro a lágrima sentida,
a lágrima dorida
que verte o coração...
Sinto o espinho da saudade
e sofro a realidade
da grande ingratidão.
E, na imensidão da dor,
eu sofro, só, o meu amor.

Menestrel apaixonado,
eu vivo desolado,
chorando a minha dor.
Choro a lágrima dorida,
a lágrima sentida,
que sai do coração.
Sinto a dor que mora n’alma,
a dor que não se acalma;
a dor que não esqueço...
Sofro, eu sofro e não mereço
a dura ingratidão
que me devora o coração!



Variações da Serenata

Algumas variações dessa manifestação são encontradas com certa facilidade, seja na mudança da qualidade da música, do ambiente ou da pessoa homenageada.

Ocorrendo durante o dia, A Serenata recebe o nome de Solarada.

Às vezes as letras das músicas podem ser de escárnio ou humorísticas, participando de uma “vingança” gentil em relação a uma pessoa.
Origem e queda da Serenata

A Seresta foi herdada da tradição ibérica através dos portugueses, que por sua vez encontra origem nos trovadores e menestréis medievais. Nesta linha, as Serenatas também podem ser classificadas como líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer).

A serenata já apareceria descrita em 1505 em Portugal por Gil Vicente na farsa Quem tem farelos?. No Brasil, o costume das serenatas seria referido pelo viajante francês Le Gentil de la Barbinais, de passagem por Salvador em 1717, ao contar em seu livro Nouveau voyage autour du monde que “à noite só se ouviam os tristes acordes das violas”, tocadas por portugueses (espadas escondidas sob os camisolões) a passear “debaixo dos balcões de suas amadas” cantando, de instrumento em punho, com “voz ridiculamente terna”. [OR].

O costume de sair às ruas para cantar e galantear as mulheres foi enfraquecendo conforme os valores culturais foram se tornando menos rígidos, permitindo a aproximação das pessoas de forma mais direta. Atualmente, a moça desceu da janela e o seresteiro pode encontrá-la sem utilizar estes recursos musicais. Some-se a este fato o aumento da violência urbana e temos um cenário que desencoraja este tipo de conquista amorosa, tendo caído em desuso no cotidiano brasileiro. Porém, uma cidade mantém-se como um forte reduto da Seresta no Brasil e aviva essa manifestação cultural.

Estudo de Caso: Conservatória – RJ

A despeito de toda falta de interesse atual a respeito da Seresta, encontra-se no Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Conservatória, um forte reduto da Serenata, sendo esta cidade considerada a Capital Brasileira da Seresta.

“O nome Conservatória tem sua origem em Portugal e se refere a um tipo de cartório de registro de populações. Originalmente, a cidade era chamada “Conservatória dos Índios”, o lugar onde os portugueses que iniciaram a colonização do lugar cadastravam os índios Araris, originários da região. “ [AM]

As serestas praticadas são anunciadas com antecedência, o que permite o afluxo de turistas e grande participação popular. Os eventos são divulgados por agências de viagens, rádio, televisão, jornais, revistas e internet.


Seresteiros em Conservatória



Forma de resistência

A retomada das serestas é uma forma de resistência contra a urbanização desenfreada, mantendo as tradições bucólicas do século passado, mantendo a atmosfera romântica, tranqüila e sonhadora dos povoados que existiam.

Além disso, é feito o resgate de grandes compositores do passado, sendo comum a apresentação de músicas imortalizadas por Cartola, Lamartine Babo, Lupicínio Rodrigues, Ataulfo Alves, Pixinguinha e Ary Barroso, dentre outros.

Conclusões

A Serenata aparece atualmente como uma manifestação cultural quase que esquecida, mas vem ganhando campo como uma forma de resgatar a atmosfera tranqüila e pacata das cidades brasileiras durante o século XIX. O amor é o tema central das composições, geralmente direcionadas a uma mulher

A simplicidade e a sinceridade das apresentações permitem que qualquer pessoa participe de uma Serenata, uma vez que são feitas nas ruas e praticamente não há custos para acompanhá-la.

Sites consultados

http://www.clubedochoro.com.br/conteudo.asp?id=41&nome=Curiosidades
[AM] http://www.pousadadamoras.tur.br/historia.htm
http://www.aac.uc.pt/~sfaac/serenata.php
[SE] http://www.seresteiros.com.br
[OR] http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/04/seresta.html

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, não sabia que existia uma cidade com serenata ainda... que maravilha!