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sexta-feira, 25 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DA PATRÍSTICA CRISTÃ - Parte 01

O sucesso político do cristianismo deveu-se ao Imperador Constantino, no poder de 306 a 337. Sem ser cristão, - pelo menos não inicialmente, - contou com o apoio dos cristãos.
Com o Edito de Milão (313) introduziu a liberdade de culto, integrado desta forma os cristãos ao mesmo nível das religiões tradicionais, o que, em últimas instância os favoreceu. Este estágio de desenvolvimento da liberdade de consciência foi uma conquista social. A liberdade religiosa foi logo rompida pela oficialização do cristianismo como religião do Império. Constantino tratou da religião como se fosse chefe da igreja e grande pontífice de todos os demais religiões. Havendo convocado o Concílio Ecumênico de Nicéia, 325, deu Constantino à igreja cristã a estrutura hierárquica que hoje ainda conserva, a de bispos e arcebispos, estes coordenando a aqueles em cada região, ou Província.
Consequentemente cresceu a posição dos bispos dentro da Igreja. Por esta e outras inovações surgiu o que veio a ser denominado, por vezes, por Igreja constantiniana. Adepto de uma religião solar monoteísta (de Mitra), o Imperador Constantino deixou-se batizar apenas no final de sua vida.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 07

A ética de Plotino decorre de uma teoria emanatista de graus. Uma vez que a descida é uma diminuição de realidade, importa retornar mentalmente à realidade superior.
A religião passa a ser uma contemplação, cujo estágio mais elevado é o êxtase. Ocorre, portanto, uma lei de retorno, do filho para o pai, da criatura para o criador. Esta excitante vontade de retorno, até repousar no ser supremo inspirará as filosofias de Agostinho e Duns Escoto. Através destes, ao misticismo cristão em geral.

terça-feira, 15 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 01

Amônio Saccas (c.175-242 d.C.) teria dado origem à doutrina neoplatônica, segundo antiga tradição. Mas, quase nada se conhece dele, nem de suas doutrinas, para se fazer um juízo novo e crítico. Fora mestre apreciado em Alexandria, como se depreende do entusiasmo de Plotino seu discípulo, que, após decepcionar-se com outros mestres, diz a propósito do novo: "Eis aqui o que eu procurava" (Porf., Vida de Plotino III).
Ficou Plotino com ele 11 anos, e depois seguiu para Roma. Não se pode inferir as doutrinas de Amônio Saccas linearmente pelas dos seus discípulos, porquanto estes diferem muito entre si. Mas estas doutrinas talvez contivessem algo de oriental, porque Plotino pretendeu a seguir estudar os persas (de onde veio para o Ocidente a influência do zoroastrismo sobre o orfismo, pitagorismo, platonismo). Igualmente quis estudar aos hindus. Além disto os neoplatônicos conservavam doutrinas em segredo; apenas os discípulos eram iniciados nas mesmas. Erênio, Orígenes e Plotino se comprometeram a não divulgar as doutrinas secretas que Amônio Saccas lhes havia descoberto em suas conversações.
Plotino permaneceu fiel à sua promessa; ele admitia, na verdade, alguns amigos em suas conversações, porém guardava religiosamente o segredo prometido às doutrinas de Amônio. Foi Erênio o primeiro a violar o pacto, e Orígenes o segundo. Este último não escreveu senão o tratado A cerca dos Demônios e, no reinado de Galiano, um livro intitulado Que só rei é criador (Poeta Plotino durante muito tempo não escreveu absolutamente nada; contentava-se em tomar das doutrinas de Amônio o fundo de suas lições (Porf. Vida de Plotino III). Por último, - como se dirá depois, - Porfírio lhe organizou os escritos. Sabe-se que todavia Amônio afirmava que Platão e Aristóteles coincidiam no essencial.

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 04

Ocorre assim que, ao mesmo tempo que nascia na Judéia o cristianismo, como um movimento de crenças singelas, já se formava em Alexandria o embasamento racional de sua teologia. De ecletismo em ecletismo, esta teologia haveria de encontrar três séculos depois uma formulação mais ou menos coerente, em que o item tipicamente neoplatônico é a Trindade das pessoas divinas.
Do ponto de vista do pensamento em geral, desenvolveu-se no mundo cristão em geral o que veio a ser depois denominado Patrística.

domingo, 13 de abril de 2008

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 03

Filon de Alexandria (c. 20 a.C.) foi o maior representante da filosofia neoplatônica judaica. Viveu exatamente ao tempo em que atuava Jesus. Não demorará o contato dos cristãos, com este filósofo, ao qual apreciam, podendo haver, por isso mesmo, assimilado algumas de suas idéias para desenvolvimento de uma nova teologia. O cristão Eusébio de Cesaréia (263-339) informou: "Nos tempos deste imperador (Tibério) floresceu Filon, varão dito em máxima estima, não somente por muitos dos nossos, senão também dos gentios. Refere-se que tendo cultivado principalmente as filosofias platônica e pitagórica, superou a todos do seu tempo" (Eusébio, Histórica eclesiástica, II,5).
Conservam-se de Filon de Alexandria vários dos seus escritos. Aplicou aos episódios bíblicos uma interpretação alegórica, como já o haviam feito os estóicos com os mitos gregos. Nisto foi seguido pela exegese da escola cristã de Alexandria, especialmente de Orígenes e Eusébio de Cesaréia. A mundivisão de Filon se processa com os conceitos de transcendência e emanação de Logos, por conseguinte com elementos tomados ao pitagorismo, platonismo e estoicismo. Deus é o inefável, inexprimível, o absolutamente transcendente, só conceituável pelo método da negação das qualidades dos seres particulares e empíricos. Mais uma vez como pitagorismo, para Filon Deus não pode tomar contato com a matéria, que é eterna. A criação bíblica não é senão a organização da matéria, pela conversão do caos em um cosmos.
A atuação de Deus, não podendo ser direta, se faz através de um Logos (inteligência, ou verbo), que é o termo com que Filon denomina as forças (Dynamis) intermediárias entre Deus e a matéria. Estas forças se afiguram, ora como propriedades de Deus, como idéias e pensamentos, ora como mensageiros e demônios (anjos) executores das ordens de Deus. Este Logos é concebido como algo um tanto separado dele, quase como um segundo Deus. Filon comparou o Logos à palavra (ou verbo).
Tem a palavra, num só tempo, a fisionomia sensível e significação inteligível, de onde ter contato simultâneo com Deus e com a matéria.

sábado, 12 de abril de 2008

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 02

Aristóbulo é o mais antigo judeu filósofo. Uns o puseram a nascer pelo ano 200 a.C., e outros pelo ano 100 a.C. Ficou conhecido apenas através de alguns seus fragmentos, conservados em citações feitas por Clemente de Alexandria e Eusébio de Cesaréia (este também nascido em Alexandria), além das informações anexas. Diz-se que foi "peripatético". Ensinou, de acordo com o platonismo, a transcendência da divindade.

Deus exerce a força, à maneira da imanência estóica. Admite a ocorrência de seres intermediários entre Deus e o mundo, o que o relaciona com os neopitagóricos, ao mesmo tempo com características do judaísmo. Aceitou, como os pitagóricos e neopitagóricos, a revelação à personalidades mais purificadas e santas. Defendeu ainda a tese original, pela qual a filosofia dos gentios, depende da revelação judaica. O mesmo dirá Filon e será repetido pelos patrísticos cristãos alexandrinos, tais como São Justino e Clemente de Alexandria.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 01

O pensamento judaico e cristão se formou com base sobretudo nos movimentos filosóficos de Alexandria. O neoplatonismo judaico resultou da fusão do platonismo e do judaísmo, formulada em Alexandria, onde os intelectuais judeus tinham contato com a cultura helênica. Alexandria foi a porta principal de contato dos judeus. O monoteísmo e espiritualismo da religião mosaica se encaminharam muito naturalmente para a assimilação das doutrinas pitagóricas e neopitagóricas, platônicas e neoplatônicas.
O contato com a sabedoria filosófica foi uma excelente oportunidade para despojar os antropomorfismos grosseiros do monoteísmo judaico mediante uma conceituação filosófica mais apurada a que haviam chegado os gregos. Refletem-se então nos ensaios de exegese bíblica a filtração de conceitos platônicos, aristotélicos e estóicos. São de Alexandria alguns livros do Velho Testamento, chamados dêutero-canônicos, que os católicos incluíram no Cânon dos livros sagrados. Escritos em grego, revelam visível melhoria de conceitos, ao mesmo tempo que influências neopitagóricas e neoplatônicas. O livro da Sabedoria, que fora atribuído falsamente ao rei Salomão (972-929 a.C.) é influenciado pela filosofia grega recente. Nele ocorre o conceito de apórroia (= emanação, sopro, sopro inteligente) que atravessa todas as coisas.
O IV Livro dos Macabeus trata da superação das paixões, em termos que são estóicos. Este livro "não é outra coisa que uma diatriba filosófica da teologia judaica" (Windelband).

quinta-feira, 10 de abril de 2008

NEOPLATONISMO E RELIGIÃO - Parte 02

O ordenamento sistemático da história do neoplatonismo sofre dificuldades, e por vezes não passa de um ordenamento para fins didáticos. Os antecedentes imediatos do neoplatonismo se encontram no neopitagorismo (Nigidio Fígulo, Sócion, Moderado de Gades, Apolônio de Tiana, Nicômaco de Gerasa, Numênio de Apaméia) (vd 247) e, limitadamente, na escola judaico-platônica de Alexandria (Aristóbulo, Fílon) (vd 254). Dentro do neoplatonismo se desenvolveu praticamente todo o pensamento dos Padres da Igreja, por isso denominados patrísticos.
Embora seja difícil enquadrar a evolução do neoplatonismo dentro de um esquema cronológico definido, é possível observar grupos e mesmo escolas denominadas pelos seus principais núcleos: - Escola neoplatônica judaica, com os nomes de Aristóbulo e, mais destaque, de Filon de Alexandria; - Escola neoplatônica Alexandrina, com nomes importantes na fase tardia: Amônio Saccas (c. 175-242), Plotino (205-270), Amélio e Porfírio, com preocupação metafísica e ética; - Escola neoplatônica Siríaca, orientada por Jâmblico, com interesse na teologia politeísta; - Escola neoplatônica Ateniense, sistemática, de que Proclo, Simplício, Damácio são os principais representantes.
Ainda é possível falar em: - escola neoplatônica de Pérgamo, a que pertenceram os mestres de Juliano Apóstata; - escola neoplatônica de Alexandria, de Sinésio de Cirene, João Filopono, Asclépio, Olimpiodoro, Davi o Armênio; - neoplatônicos do Ocidente Latino, Macróbio, Calcídio, Mário Victorino, Boécio.O historiador contemporâneo Diógenes Laércio mal alcançou este tempo. Mas chegou a dizer que Potamon fundou "nos últimos tempos" uma escola em Alexandria. A omissão se deve em parte ao fato de se ter restringido aos filósofos que passaram pela Grécia. A lacuna foi preenchida, entretanto, por Porfírio, cuja Vida de Plotino, biografa o principal representante da escola e menciona muitos outros nomes, tudo isto completado, em alguns casos, pelas obras que restaram.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

NEOPLATONISMO E RELIGIÃO - Parte 01

A importância do neoplatonismo em filosofia da religião é inconteste. É que ele ocorreu num período de grande exacerbação religiosa. Como um movimento mais definido, o neoplatonismo se manifestou sobretudo no século 2-o d.C., tendo a Plotino (vd 262) como seu principal sistematizador. Tudo, entretanto, já principiara no final do milênio anterior, quando em Alexandria helênica, num importante núcleo de ideologias religiosas do Oriente e do Ocidente, repercutiu a filosofia dos gregos, sobretudo a de Platão (427-347 a.C.), a qual sempre tivera vasta influência.
O neoplatonismo, tanto em suas manifestações primeiras, como em suas formas tardias do segundo século d.C., teve, - como se disse, - forte repercussão na mentalidade religiosa que agora passava a ter voga. Gerou o neoplatonismo uma linguagem filosófica adequada para o tratamento racional das doutrinas religiosas. Cedo criaram os judeus uma nova linguagem para o judaísmo. O mesmo acontecia com outras crenças as quais estabeleceram também as suas teologias. Tudo isto foi finalmente influenciar o cristianismo oficial, como depois se instalou, sobretudo a partir do Concílio de Nicéia, em 325. Nunca antes houvera tal zelo da Igreja Cristã pelas particularidades doutrinárias.
Esta preocupação chegou ao ponto de se convocar concílios, para neles se decidir questões de doutrina, por votação numérica. Os dogmas estabelecidos no calor do voto, passaram a ter efeito excomunicatório, sendo eliminados os grupos discordantes, dados como hereges. A igreja cristã, - que herdou dessa fase neoplatônico-religiosa a tendência para as definições teológicas, - fará, desse dogmatismo com base no voto, uma de suas características mais odiosas, que perdurará até adentrados tempos da época moderna.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

MISTICISMO-RELIGIOSO NEOPITAGÓRICO E NEOPLATÔNICO

Um forte movimento místico-religioso ocorreu a partir do neopitagorismo e do neoplatonismo.
O moderado naturalismo helênico-romano foi contornado nos círculos religiosos, por um movimento, que caracterizou os primeiros séculos do início do milênio cristão. A sede principal do movimento estava em Alexandria, próspera desde que Alexandre Magno a fundara em 332 a.C., estava agora uma cidade ainda mais internacional, desde o ano 30 a.C., quando passou a integrar o Império Romano. O movimento místico religioso a que nos referimos, já vinha despontando no final do 1-o. século a.C., liderado pelos neopitagóricos, e logo também foi um poderoso movimento neoplatônico. Um e outro influenciaram as religiões da época, inclusive a judaica e a cristã.

Como se sabe, o pitagorismo e o platonismo, desde sua forma primeira na antiguidade grega se desenvolveram com mútua influência. Agora, neopitagorismo e neoplatonismo conservam afinidade, sobretudo no que concerne ao seu dualismo radical, opondo espírito e matéria, buscando salvar o espírito frente à matéria menosprezada pelos efeitos maléficos que lhe atribuem.

O que mais remotamente unia a todos estes pensadores de fundo religioso pitagórico e platônico, depois neopitagórico e neoplatônico, foi sua afinidade com o orfismo de origem oriental. A afirmação expressa de Platão sobre a superioridade da alma, com vida autônoma, nobre, elevada, aspiração à perfeição, purificação da matéria, separação em direção a um outro mundo, o fizeram preferido nos círculos mais populares, onde atuavam os religiosos ou místicos mais intelectualizados, em detrimento de Aristóteles e do naturalismo em geral.
Não chegou Aristóteles, mais cuidadoso e reservado, a declarações dualistas tão radicais, embora sua filosofia pareça melhor fundada.

A argumentação das filosofias neoplatônicas deste novo período não parece convincente. Tais filosofias alegam vagamente que a alma é, ao mesmo tempo, algo de elevado e de afundado na matéria.

Este afundamento na matéria ocorre todavia como em uma situação anormal. Deve, pois, a alma humana ser resgatada mediante práticas de salvação. Este quadro de perdição é o fundo da maioria das religiões, e que encontram agora nas filosofias neopitagórica e platônica o seu ideário teórico.

As doutrinas religiosas, como o zoroastrismo, e que já eram conhecidas no Ocidente pelo velho pitagorismo e pelo orfismo já presente em Platão, ganharam corpo, nesta fase do pensamento helênico-romano. Ainda que peculiares a todas as religiões primitivistas, os mistérios e purificações, visando uma salvação para o seu espírito, lograram nova força. Sobretudo o neoplatonismo se tornou, por isso, por excelência, a filosofia das religiões de caráter salvacionista, as quais passaram a proliferar.

Pela volta do século 1-o. a.C. as idéias trinitárias penetram na filosofia da religião, através do neopitagorismo e de diferentes formas de platonismo, de que o neoplatonismo de Plotino será um dos mais representativos.

O ser é apresentado como polivalente, e emanando um do outro. No alto se encontra o Uno, a seguir o Logos (a inteligência, ou o verbo), em terceiro lugar a Alma do mundo.

Finalmente derivavam as almas individuais e a matéria.

Por uma espécie de retorno mental, ou místico, se faz a marcha inversa, pela qual a alma humana finalmente se extasia em união com o Uno.

Criou-se uma filosofia, sobretudo através do neoplatonismo, de embasamento para as teologias trinitárias. Por isso mesmo adquiriu importância histórica o neopitagorismo, o neoplatonismo.
Didaticamente decorrem dali dois títulos representativos:
- Neopitagorismo e religião
- Neoplatonismo e religião

sexta-feira, 21 de março de 2008

A PESSOA HUMANA NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

Introdução

A pessoa humana pode ser estudada em suas mais diversas dimensões. Tudo no que se verifica uma influência humana é objeto para estudiosos e com isso temos a cada dia novas descobertas sobre o que somos, nossa trajetória, o que queremos, para onde vamos e como nos relacionamos com tudo e todos que nos cerca. Neste último aspecto dissolvemos a individualidade de cada um e passamos a nos referir a uma sociedade, que por sua vez, representa a pessoa média que a compõe. A partir disso é comum a comparação entre um indivíduo e a sociedade a fim de nortear as verdades da época.

Atualmente temos uma gama de informações gigantesca que permite a veiculação instantânea de opiniões, fatos e relatos que ocorrem em qualquer parte do mundo. Uma das alcunhas dadas à nossa sociedade atual é de “Sociedade da Informação”, na qual foi aprimorado o nível das telecomunicações, principalmente durante a Guerra Fria (1945-1989). Neste período houve o desenvolvimento das redes de computadores em velocidade alta, que mais tarde seriam comercializadas com o nome de Internet.

Outras mudanças de paradigma são encontradas principalmente durante o final do século XIX e todo o século XX, muitas das quais têm seus reflexos sentidos até hoje: o fim do sistema de produção escravagista, a urbanização das cidades, o aumento da população mundial, a mudança do papel da mulher na sociedade, a consciência ecológica e a globalização econômica, apenas para citar alguns exemplos. Some-se a estes fatos suas conseqüências, tais como a favelização das periferias das cidades, o surto de miséria e fome em muitas partes do globo, a deteriorização de valores como família e casamento, intolerância religiosa, aumento de violência urbana e expansão de capital especulativo em qualquer parte do mundo. Em contrapartida, o avanço tecnológico foi assombroso, trazendo melhorias na medicina, economia, astronomia, física, química e tantas outras ciências.

Diante deste quadro, que por sua alta velocidade tende a ser alterado antes que consigamos entendê-lo, muitas dúvidas e incertezas vêm ao pensamento das pessoas. Algumas se apegam aos vícios, outras às religiões, outras tentam acompanhar as mudanças, outras participam das mudanças e temos um cenário que contempla uma diversificação de interesses muito grande. Desta forma os regimes democráticos e capitalistas têm se sobressaído e são adotados na maioria dos países do mundo. Por outro lado acompanhamos ações ditatoriais de intervenção militar e religiões extremistas que polarizam a disputa pela hegemonia global.

Religiões mundiais

Neste ínterim a Antropologia Teológica surge a fim de questionar e refletir sobre o âmbito religioso das pessoas. É muito comum ouvir-se a afirmação de que “a situação atual é ruim, pois falta Deus no coração”. Há um certo fundamento nisso, pois pessoas mais espiritualizadas têm mais consciência de si mesmo e, consequentemente, dos outros, primando pelo diálogo e sabendo colocar-se perante seu ambiente e a micro-sociedade que a cerca.

As maiores religiões mundiais (Catolicismo, Judaísmo e Islamismo) a cada dia têm seus dogmas questionados e há claramente uma diminuição no número de praticantes, seja por novas descobertas da ciência ou pela constatação de que certos dogmas tiveram sua verdade no passado, mas hoje apenas trazem prejuízos àqueles que os praticam. Assim, cresce o número de igrejas, doutrinas e linhas teológicas das mais variadas premissas. Muitas são sérias, estudiosas e primam pela superação e evolução de seus seguidores; outras, apenas aproveitam o momento para manipulações políticas ou enriquecimento.

Outrora um tabu, hoje a discussão sobre religiões é mais aberta e, no caso específico do Brasil, mais tolerada e pacificamente vemos a convivência de pessoas e até famílias com orientações espirituais diferentes, ao contrário do Oriente Médio, por exemplo, no qual as guerras são históricas e sempre há notícias de violência nos choques entre os religiosos.

Auto-conhecimento

A sociedade moderna é repleta de transformações e informações, muita velocidade e necessidade de tomadas de decisões rápidas. Há um dito que sintetiza bem esse momento: “A pessoa humana vive como se não fosse morrer e morre como se não tivesse vivido”. Grande parte desse padrão de pensamento (e consequentemente das experiências vividas por cada um) tem suas raízes ligadas à religião e seus dogmas inquestionáveis, o que reforçou alienação capitalista do trabalho, na qual cada um faz sua parte mas não tem noção do todo e sequer o questiona. É muito comum ouvir-se que as coisas são assim “por que Deus quer”. Porém, esta visão está mudando. A cada dia percebe-se que é necessário o entendimento de todo um processo para que cada um faça sua parte responsavelmente. Neste período de globalização, qualquer erro de planejamento ou execução pode ressaltar em atrasos para outras entidades que estão relacionadas..

Falta às pessoas que se enquadram nesse padrão o diálogo interno e o auto-conhecimento. Este momento de paz, reflexão sobre o passado e realinhamento dos objetivos futuros pode ser encontrado através das religiões ou durante meditações ou mesmo com a ocorrência de idéias que aparecem aparentemente sem nexo causal (“insight”).

A cada momento, temos várias opções; de cada opção, temos escolhas; de cada escolha uma responsabilidade, afinal, seus desdobramentos serão encontrados no futuro. Cada escolha é dada pelas crenças pessoais, por isso o auto-conhecimento e a reflexão tornam-se necessárias para, inclusive, elevar a qualidade de vida de cada um; uma sociedade que é composta de pessoas responsáveis, conscientes e que constroem suas vidas na paz. Pode até soar utópico, mas é possível.

Conclusão

A sociedade moderna contempla uma série de rápidas mudanças que ocorrem nos últimos 150 anos. A pulverização do poder mundial, o aumento da população presente no globo, dentre outros fatores, contribuem para uma nova reorganização da pessoa humana neste contexto. A religião é um dos meios de auxiliar as tomadas de decisões diárias das pessoas, religando-as com Deus. Neste imenso oceano de informações, é possível encontrar as mais diversas vertentes religiosas e visões do que se constitui nosso Universo.

O auto-conhecimento permite uma posição crítica e filosófica perante todos os fatores que nos rodeiam, trazendo fortalecimento interno pessoal e uma postura de paz perante a Vida.

A sociedade moderna opta por ter poucos momentos para a reflexão interna, mas atualmente há um bom nicho da sociedade que está revendo seus conceitos, seus padrões de pensamentos e tornando-se mais tolerantes para com os que pensam de forma diferente. A abertura ao diálogo e o desapego às antigas crenças permitirão a construção de uma sociedade mais científica, mais evoluída e com menos choques culturais.