segunda-feira, 28 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DA PATRÍSTICA CRISTÃ - Parte 02

Patrística é a denominação que os historiadores da filosofia e da teologia deram ao pensamento cristão, filosófico e teológico, dos primeiros séculos cristãos. Seus autores se dizem Padres da Igreja.
O quadro geral dos pensadores patrísticos, se redistribui em:
a) Período de formação da patrística (2-o. e 3-o séc., até o Concílio de Nicéia, ano 325), com os nomes gregos: Aristides, autor de uma Apologia; São Justino, autor de duas Apologias; Taciano, que depois se tornou gnóstico; Atenágoras; Teófilo de Antioquia; Santo Irineu, autor de Contra os hereges; Hipólito, autor de Philosophoumena com nomes da África latina: Minúcio Felix; Tertuliano, de grande produção, depois montanista; Arnóbio, apologista; Lactâncio, um clássico latino, com ação no Oriente e em Tréveris; com nomes da Escola cristã de Alexandria: Panteno, fundador da Escola Cristã; Clemente Alexandrino; Orígenes de Alexandria, de grande erudição.
B) Século da grande patrística (325-430), com nomes gregos: Santo Atanásio; São Gregório de Nazianzo; São Basílio Magno; São Gregório de Nissa; Com nomes latinos: Santo Hilário de Poitiers; Santo Ambrósio; Santo Agostinho de Hipona.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DA PATRÍSTICA CRISTÃ - Parte 01

O sucesso político do cristianismo deveu-se ao Imperador Constantino, no poder de 306 a 337. Sem ser cristão, - pelo menos não inicialmente, - contou com o apoio dos cristãos.
Com o Edito de Milão (313) introduziu a liberdade de culto, integrado desta forma os cristãos ao mesmo nível das religiões tradicionais, o que, em últimas instância os favoreceu. Este estágio de desenvolvimento da liberdade de consciência foi uma conquista social. A liberdade religiosa foi logo rompida pela oficialização do cristianismo como religião do Império. Constantino tratou da religião como se fosse chefe da igreja e grande pontífice de todos os demais religiões. Havendo convocado o Concílio Ecumênico de Nicéia, 325, deu Constantino à igreja cristã a estrutura hierárquica que hoje ainda conserva, a de bispos e arcebispos, estes coordenando a aqueles em cada região, ou Província.
Consequentemente cresceu a posição dos bispos dentro da Igreja. Por esta e outras inovações surgiu o que veio a ser denominado, por vezes, por Igreja constantiniana. Adepto de uma religião solar monoteísta (de Mitra), o Imperador Constantino deixou-se batizar apenas no final de sua vida.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 07

A ética de Plotino decorre de uma teoria emanatista de graus. Uma vez que a descida é uma diminuição de realidade, importa retornar mentalmente à realidade superior.
A religião passa a ser uma contemplação, cujo estágio mais elevado é o êxtase. Ocorre, portanto, uma lei de retorno, do filho para o pai, da criatura para o criador. Esta excitante vontade de retorno, até repousar no ser supremo inspirará as filosofias de Agostinho e Duns Escoto. Através destes, ao misticismo cristão em geral.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 06

A matéria é o último estágio da emanação, segundo Plotino. É o último, por se tratar da maior indeterminação possível antes do nada. Em vista das derivações sucessivas, a alma exerce a função de produzir a matéria. Engendra, por conseguinte, o corpo e o organiza por meio de potências como as faculdades vegetativas e sensitivas. Que seria em Plotino a matéria em si mesma?. Sua concepção é similar de Aristóteles.
Este a estabelece como realidade, porém indeterminada, recebendo determinações por parte da forma. A geração da matéria por obra do espírito inspirará no futuro algumas formas mais filosóficas de "espiritismo".

domingo, 20 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 05

A Alma do mundo emana do Logos. Ela é a forma geral de todas as coisas. Corresponde ao Lógos imanente às coisas de acordo com a concepção dos estóicos. Estes o diziam também fogo racional (pyr noerón). Em Plotino a Alma do mundo é conceituada como forças plásticas, ou como razões seminais (Lógoi spermatikoí). Corresponde a uma visão conjuntas das formas substanciais, ao modo como Aristóteles entendia a forma que determina a matéria.

As almas individuais não se distinguem propriamente das razões seminais, as quais se encontram multiplicadas na Alma do mundo, como as idéias são muitas dentro de uma só inteligência. Todo o corpo é animado, porque contém as referidas razões seminais. Não o que seria apenas corpo sem alma, porquanto a Alma do Mundo a tudo se estende.
Não ocorre fragmentação da alma, participando ela de todo o mundo. "A Alma do mundo se dá a ele em toda a extensão, tão grande quanto seja; todos os intervalos, grandes e pequenos, são animados. Muitos corpos podem estar no mesmo lugar; um está aqui outro lá, e estão separados um do outro. A alma não é assim; ela não se fragmenta para animar com cada uma de suas partes cada parte do corpo; mas todas as partes vivem pela alma toda inteira, ela está toda presente por toda a parte, semelhante, pela sua unidade e sua onipresença com o Pai (a inteligência) que a engendrou" (Enéada V,1,2, 25-33).
A teoria das razões seminais, em vista da onipresença da vida, favorece as hipóteses da evolução da vida. É retomada por Agostinho, embora abandonada pela Escolástica. A onipresença da alma, em um corpo humano individual, é todavia entendida pelos escolásticos ao modo de Plotino; a mesma alma estaria onipresente, toda inteira em cada lugar do corpo humano. Diferente disto tudo é a teoria de que o corpo humano seria uma coleção de vidas coordenadas, com vida autônoma para cada célula .

sábado, 19 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 04

A inteligência (Logos) emana por causa da necessidade de conhecer. Ora, o conhecer supõe a composição de sujeito e objeto. Logo, a inteligência se distinguiu de Deus. Poder-se-ia contestar a Plotino, que Deus poderia coincidir com o mesmo pensar. Ainda que em abstrato se conceba a divisão em Deus, concretamente ela não está impedida de simultaneidade. De maneira geral, o Logos é a imagem do Uno e é menor do que ele.
O Logos é a imagem do Uno Mas se diversifica em muitas idéias, por não poder apreender de uma só vez o Uno. Tais idéias equivalem às idéias arquétipas de que fala Platão; em Plotino, ela são efetivamente idéias, ao passo que em Platão elas são idéias reais. Na prática, não há grande diferença entre idéias reais de Platão e o Logos de Plotino, se se considerar apenas uma e a outra entidade; a diferença maior quando Plotino diz que do Uno deriva o Logos, por sua vez do Logos a Alma do mundo. O Logos exerce ainda a função de Demiurgo, aproveitando-se das idéias para realizar os novos seres, tendo-as como modelos.
O Lógos, portanto é o Senhor, à semelhança como dele se diz na doutrina cristã.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 03

Passou Plotino a analisar o conceito de cada uma destas formas de ser do esquema trinitário. Acima de tudo está o Uno, sem qualquer particularização e portanto dotado de transcendência total. Não é isso e nem aquilo, mas é simplesmente.
Não pode sequer ser inteligência, porque esta já é um tipo determinado de ser. "O Uno supremo está do lado de lá do ser" (Enéada, VI,6,5, 37). "Ele é a realidade primeira, mas que não é inteligência por ser anterior à inteligência; pois a inteligência se conta entre as coisas existentes; ora, ele não é algo existente, pois é anterior a tudo; nem é nenhum ser, porque o ser não é algo existente, pois é anterior a tudo; nem é nenhum ser, porque o ser tem como forma a forma do ser; ora, Deus é despido de qualquer forma. Como principalmente a essência da unidade é a produtora de todas as coisas, não é Deus nenhuma destas. Portanto nem é uma realidade determinada, nem nada de qualificativo ou quantitativo, nem espírito, nem alma. Nem é móvel, nem está em repouso, não está no espaço, nem no tempo, mas é uniforme como tal, ou antes, é sem forma, porque é anterior à toda forma, anterior ao movimento e ao repouso, que se atêm ao ser e o multiplicam" (Enéada VI 9, 3). E
sta doutrina da transcendência de Plotino cabe tanto na filosofia de Platão, como na de Aristóteles. O conflito verdadeiramente ocorre nas emanações sucessivas, por graus decrescentes. Isto importa em negar ao ser supremo a capacidade de causar diretamente todas as escalas do ser. As doutrinas primitivas, quando apoiadas nas emanações sucessivas, parecem não ter consistência metafísica. Esta sucessividade compromete a própria transcendência. Dar sucessão implica em atribuir ao primeiro, o Uno, a anterioridade, sem a simultaneidade.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 02

A alma do mundo

Depois seguem as emanações das almas individuais e finalmente a emanação da matéria. A Trindade inicial, que já aparece em outros neopitagóricos, apresenta analogia com a Trindade de Platão (vd 215) e com a Trindade cristã.

Ocorrem variações nas diversas conceituações, seja entre neopitagorismo e neoplatonismo; seja entre estas doutrinas globalmente e a Trindade cristã. A analogia entre todos estas trindades é evidente, como também a mentalidade raciocinante que inspirava a todas na época antiga.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 01

O monismo panteísta de Plotino é o que tem de mais peculiar o seu sistema. Este monismo panteísta opera, por sua vez, por emanação, isto é, por derivações, cujo resultado permanece imanente, sem se separar efetivamente. Desdobra o ser emanativamente em uma Trindade divina: - o Uno, - o Logos- a Alma do mundo. Finalmente, a Alma do mundo faz emanar as almas humanas individuais e a matéria. A conceituação de Plotino já tem analogia nos mitos caóticos das religiões. Estes mitos passam agora a ter uma sustentação filosófica, ainda que discutível, cujo resultado é uma progressiva racionalização. Conforme se adiantou, o trinitarismo não é nada mais que a introdução da processão trinitária nas unidades principais do sistema de Platão, - Idéias eternas, Demiurgo, Matéria eterna (mundo). Em Platão todas as três são eternas, sem serem inter-relacionadas. Agora uma procede da outra. No monismo panteísta de Plotino a processão se faz emanação. Ponderou que o pleno pode emanar por extravasão do superabundante, sem perder sua plenitude.
Os graus menores de perfeição, que se encontram ao nosso alcance, nos permitem, pelo retorno, ir ao conhecimento do pleno. Esta maneira de ver, pelo retorno à Idéia inicial, foi sempre peculiar ao platonismo e comanda seu argumento preferido da existência de Deus. O argumento foi colhido por Tomás de Aquino, que o arrolou como quarta via, a dos graus de perfeição. Estes se exigem sucessivamente até o grau máximo, chamado Deus. Na mundivisão de Plotino, ocorre uma emanação do pleno, como algo que se derrama, pela sua superabundância. E, à medida que se expande esta emanação, se constituem como decréscimo de ente, os sucessivos graus. O Ser é Uno, mas se desdobra em emanações decrescentes. O processo inicial das emanações se dá na forma de Trindade divina: Tò Hén (= O Uno); Logos (= A inteligência, ou O Verbo);

terça-feira, 15 de abril de 2008

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 01

Plotino (c.205-270) foi o último filósofo antigo a criar um grande sistema, denominado neoplatonismo. Sua importância está em haver dado embasamento intelectual às religiões orientais e finalmente ao próprio cristianismo, sobretudo a Agostinho de Hipona (354-430). Nasceu Plotino em Nicópolis, do Egito, e estudou em Alexandria, então o maior centro cultural, entre o Oriente e o Ocidente. Por ocasião da expedição do imperador Gordiano contra os persas, o acompanhou, quando a oportunidade de tomar contato com os sábios daquela remota região. Em 244 abriu escola em Roma. Ali viveu como asceta e celibatário.
Os escritos de Plotino foram ordenados por Porfírio o Fenício (c.232-304), o mais fiel dos seus discípulos. Passaram a chamar-se Enéadas (derivada de ennéa = nove), porque os textos foram ordenados em 6 partes, cada uma com 9 pequenos tratados. Traduzida a obra de Plotino já na antiguidade romana do grego para o latim, por Mário Victorino, ela influenciou imediatamente o Ocidente, sobretudo aos cristãos.

NEOPLATONISMO DE SACCAS, PLOTINO E DISCÍPULOS - Parte 01

Amônio Saccas (c.175-242 d.C.) teria dado origem à doutrina neoplatônica, segundo antiga tradição. Mas, quase nada se conhece dele, nem de suas doutrinas, para se fazer um juízo novo e crítico. Fora mestre apreciado em Alexandria, como se depreende do entusiasmo de Plotino seu discípulo, que, após decepcionar-se com outros mestres, diz a propósito do novo: "Eis aqui o que eu procurava" (Porf., Vida de Plotino III).
Ficou Plotino com ele 11 anos, e depois seguiu para Roma. Não se pode inferir as doutrinas de Amônio Saccas linearmente pelas dos seus discípulos, porquanto estes diferem muito entre si. Mas estas doutrinas talvez contivessem algo de oriental, porque Plotino pretendeu a seguir estudar os persas (de onde veio para o Ocidente a influência do zoroastrismo sobre o orfismo, pitagorismo, platonismo). Igualmente quis estudar aos hindus. Além disto os neoplatônicos conservavam doutrinas em segredo; apenas os discípulos eram iniciados nas mesmas. Erênio, Orígenes e Plotino se comprometeram a não divulgar as doutrinas secretas que Amônio Saccas lhes havia descoberto em suas conversações.
Plotino permaneceu fiel à sua promessa; ele admitia, na verdade, alguns amigos em suas conversações, porém guardava religiosamente o segredo prometido às doutrinas de Amônio. Foi Erênio o primeiro a violar o pacto, e Orígenes o segundo. Este último não escreveu senão o tratado A cerca dos Demônios e, no reinado de Galiano, um livro intitulado Que só rei é criador (Poeta Plotino durante muito tempo não escreveu absolutamente nada; contentava-se em tomar das doutrinas de Amônio o fundo de suas lições (Porf. Vida de Plotino III). Por último, - como se dirá depois, - Porfírio lhe organizou os escritos. Sabe-se que todavia Amônio afirmava que Platão e Aristóteles coincidiam no essencial.

Loose Change 2nd Edition

Com “Loose Change”, Dylan Avery retoma a teoria da conspiração estadunidense para explicar o ataque contra o Pentágono; mas também questiona, de maneira ainda mais ousada, a hipótese oficial sobre o atentado às torres gêmeas do World Trade Center. Baseando-se em numerosos documentos de vídeo, material de arquivos, trechos de áudio e animações em 3D, o jovem realizador produziu um documento fascinante e perturbador, que coloca totalmente em xeque a versão da Casa Branca sobre o 11 de Setembro. Vídeo em inglês, com legendas em português.

Veja aqui.

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 04

Ocorre assim que, ao mesmo tempo que nascia na Judéia o cristianismo, como um movimento de crenças singelas, já se formava em Alexandria o embasamento racional de sua teologia. De ecletismo em ecletismo, esta teologia haveria de encontrar três séculos depois uma formulação mais ou menos coerente, em que o item tipicamente neoplatônico é a Trindade das pessoas divinas.
Do ponto de vista do pensamento em geral, desenvolveu-se no mundo cristão em geral o que veio a ser depois denominado Patrística.

Transdisciplinaridade

José Baldissera entrevista Paulo Margutti (doutor em Filosofia/UFMG).

Parte 01

Parte 02

domingo, 13 de abril de 2008

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 03

Filon de Alexandria (c. 20 a.C.) foi o maior representante da filosofia neoplatônica judaica. Viveu exatamente ao tempo em que atuava Jesus. Não demorará o contato dos cristãos, com este filósofo, ao qual apreciam, podendo haver, por isso mesmo, assimilado algumas de suas idéias para desenvolvimento de uma nova teologia. O cristão Eusébio de Cesaréia (263-339) informou: "Nos tempos deste imperador (Tibério) floresceu Filon, varão dito em máxima estima, não somente por muitos dos nossos, senão também dos gentios. Refere-se que tendo cultivado principalmente as filosofias platônica e pitagórica, superou a todos do seu tempo" (Eusébio, Histórica eclesiástica, II,5).
Conservam-se de Filon de Alexandria vários dos seus escritos. Aplicou aos episódios bíblicos uma interpretação alegórica, como já o haviam feito os estóicos com os mitos gregos. Nisto foi seguido pela exegese da escola cristã de Alexandria, especialmente de Orígenes e Eusébio de Cesaréia. A mundivisão de Filon se processa com os conceitos de transcendência e emanação de Logos, por conseguinte com elementos tomados ao pitagorismo, platonismo e estoicismo. Deus é o inefável, inexprimível, o absolutamente transcendente, só conceituável pelo método da negação das qualidades dos seres particulares e empíricos. Mais uma vez como pitagorismo, para Filon Deus não pode tomar contato com a matéria, que é eterna. A criação bíblica não é senão a organização da matéria, pela conversão do caos em um cosmos.
A atuação de Deus, não podendo ser direta, se faz através de um Logos (inteligência, ou verbo), que é o termo com que Filon denomina as forças (Dynamis) intermediárias entre Deus e a matéria. Estas forças se afiguram, ora como propriedades de Deus, como idéias e pensamentos, ora como mensageiros e demônios (anjos) executores das ordens de Deus. Este Logos é concebido como algo um tanto separado dele, quase como um segundo Deus. Filon comparou o Logos à palavra (ou verbo).
Tem a palavra, num só tempo, a fisionomia sensível e significação inteligível, de onde ter contato simultâneo com Deus e com a matéria.

sábado, 12 de abril de 2008

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 02

Aristóbulo é o mais antigo judeu filósofo. Uns o puseram a nascer pelo ano 200 a.C., e outros pelo ano 100 a.C. Ficou conhecido apenas através de alguns seus fragmentos, conservados em citações feitas por Clemente de Alexandria e Eusébio de Cesaréia (este também nascido em Alexandria), além das informações anexas. Diz-se que foi "peripatético". Ensinou, de acordo com o platonismo, a transcendência da divindade.

Deus exerce a força, à maneira da imanência estóica. Admite a ocorrência de seres intermediários entre Deus e o mundo, o que o relaciona com os neopitagóricos, ao mesmo tempo com características do judaísmo. Aceitou, como os pitagóricos e neopitagóricos, a revelação à personalidades mais purificadas e santas. Defendeu ainda a tese original, pela qual a filosofia dos gentios, depende da revelação judaica. O mesmo dirá Filon e será repetido pelos patrísticos cristãos alexandrinos, tais como São Justino e Clemente de Alexandria.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

NEOPLATONISMO JUDAICO E RELIGIÃO - Parte 01

O pensamento judaico e cristão se formou com base sobretudo nos movimentos filosóficos de Alexandria. O neoplatonismo judaico resultou da fusão do platonismo e do judaísmo, formulada em Alexandria, onde os intelectuais judeus tinham contato com a cultura helênica. Alexandria foi a porta principal de contato dos judeus. O monoteísmo e espiritualismo da religião mosaica se encaminharam muito naturalmente para a assimilação das doutrinas pitagóricas e neopitagóricas, platônicas e neoplatônicas.
O contato com a sabedoria filosófica foi uma excelente oportunidade para despojar os antropomorfismos grosseiros do monoteísmo judaico mediante uma conceituação filosófica mais apurada a que haviam chegado os gregos. Refletem-se então nos ensaios de exegese bíblica a filtração de conceitos platônicos, aristotélicos e estóicos. São de Alexandria alguns livros do Velho Testamento, chamados dêutero-canônicos, que os católicos incluíram no Cânon dos livros sagrados. Escritos em grego, revelam visível melhoria de conceitos, ao mesmo tempo que influências neopitagóricas e neoplatônicas. O livro da Sabedoria, que fora atribuído falsamente ao rei Salomão (972-929 a.C.) é influenciado pela filosofia grega recente. Nele ocorre o conceito de apórroia (= emanação, sopro, sopro inteligente) que atravessa todas as coisas.
O IV Livro dos Macabeus trata da superação das paixões, em termos que são estóicos. Este livro "não é outra coisa que uma diatriba filosófica da teologia judaica" (Windelband).

quinta-feira, 10 de abril de 2008

NEOPLATONISMO E RELIGIÃO - Parte 02

O ordenamento sistemático da história do neoplatonismo sofre dificuldades, e por vezes não passa de um ordenamento para fins didáticos. Os antecedentes imediatos do neoplatonismo se encontram no neopitagorismo (Nigidio Fígulo, Sócion, Moderado de Gades, Apolônio de Tiana, Nicômaco de Gerasa, Numênio de Apaméia) (vd 247) e, limitadamente, na escola judaico-platônica de Alexandria (Aristóbulo, Fílon) (vd 254). Dentro do neoplatonismo se desenvolveu praticamente todo o pensamento dos Padres da Igreja, por isso denominados patrísticos.
Embora seja difícil enquadrar a evolução do neoplatonismo dentro de um esquema cronológico definido, é possível observar grupos e mesmo escolas denominadas pelos seus principais núcleos: - Escola neoplatônica judaica, com os nomes de Aristóbulo e, mais destaque, de Filon de Alexandria; - Escola neoplatônica Alexandrina, com nomes importantes na fase tardia: Amônio Saccas (c. 175-242), Plotino (205-270), Amélio e Porfírio, com preocupação metafísica e ética; - Escola neoplatônica Siríaca, orientada por Jâmblico, com interesse na teologia politeísta; - Escola neoplatônica Ateniense, sistemática, de que Proclo, Simplício, Damácio são os principais representantes.
Ainda é possível falar em: - escola neoplatônica de Pérgamo, a que pertenceram os mestres de Juliano Apóstata; - escola neoplatônica de Alexandria, de Sinésio de Cirene, João Filopono, Asclépio, Olimpiodoro, Davi o Armênio; - neoplatônicos do Ocidente Latino, Macróbio, Calcídio, Mário Victorino, Boécio.O historiador contemporâneo Diógenes Laércio mal alcançou este tempo. Mas chegou a dizer que Potamon fundou "nos últimos tempos" uma escola em Alexandria. A omissão se deve em parte ao fato de se ter restringido aos filósofos que passaram pela Grécia. A lacuna foi preenchida, entretanto, por Porfírio, cuja Vida de Plotino, biografa o principal representante da escola e menciona muitos outros nomes, tudo isto completado, em alguns casos, pelas obras que restaram.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

NEOPLATONISMO E RELIGIÃO - Parte 01

A importância do neoplatonismo em filosofia da religião é inconteste. É que ele ocorreu num período de grande exacerbação religiosa. Como um movimento mais definido, o neoplatonismo se manifestou sobretudo no século 2-o d.C., tendo a Plotino (vd 262) como seu principal sistematizador. Tudo, entretanto, já principiara no final do milênio anterior, quando em Alexandria helênica, num importante núcleo de ideologias religiosas do Oriente e do Ocidente, repercutiu a filosofia dos gregos, sobretudo a de Platão (427-347 a.C.), a qual sempre tivera vasta influência.
O neoplatonismo, tanto em suas manifestações primeiras, como em suas formas tardias do segundo século d.C., teve, - como se disse, - forte repercussão na mentalidade religiosa que agora passava a ter voga. Gerou o neoplatonismo uma linguagem filosófica adequada para o tratamento racional das doutrinas religiosas. Cedo criaram os judeus uma nova linguagem para o judaísmo. O mesmo acontecia com outras crenças as quais estabeleceram também as suas teologias. Tudo isto foi finalmente influenciar o cristianismo oficial, como depois se instalou, sobretudo a partir do Concílio de Nicéia, em 325. Nunca antes houvera tal zelo da Igreja Cristã pelas particularidades doutrinárias.
Esta preocupação chegou ao ponto de se convocar concílios, para neles se decidir questões de doutrina, por votação numérica. Os dogmas estabelecidos no calor do voto, passaram a ter efeito excomunicatório, sendo eliminados os grupos discordantes, dados como hereges. A igreja cristã, - que herdou dessa fase neoplatônico-religiosa a tendência para as definições teológicas, - fará, desse dogmatismo com base no voto, uma de suas características mais odiosas, que perdurará até adentrados tempos da época moderna.

domingo, 6 de abril de 2008

NEOPITAGORISMO E RELIGIÃO - Parte 04

A subida da alma ao céu astronômico

O neopitagorismo, desde o velho pitagorismo, está sob influência oriental. Continuou a assimilar elementos da religião de Mitra (vd 250), e, de um modo geral, da religião de Zoroastro (vd 125), ao mesmo tempo que fazendo reelaborações. Para o neopitagorismo, a alma, depois da morte do indivíduo, é julgada. Se o julgamento lhe for favorável, ela sobe ao céu astronômico. Ainda que a religião dos egípcios já acreditasse neste julgamento, a alma ficava junto ao corpo, e dali porque este era conservado o melhor possível pela mumificação. Com os neopitagóricos acentua-se a imagem de que o céu das almas se encontra no alto e não mais em um lugar especial embaixo da terra. As concepções mais antigas das religiões se imaginavam o lugar dos justos embaixo da terra, ainda que pudessem imaginar que Deus também circulava pelo cosmos.

Há um momento na história das religiões, em que o céu passa a ser considerado como estando no alto. Divide-se o céu neopitagórico em sete esferas, que correspondem aos sete planetas. Cada céu é penetrado através de uma porta, cujo anjo a abre aos iniciados, anteriormente instruídos com fórmulas especiais. Ante cada passagem despe-se a alma, como que de vestes sucessivas das funções tipicamente humanas e materiais. Nos cerimoniais litúrgicos de preparação, por meio de vestes simbólicas, por vestes simbólicas, que os indivíduos vão trocando, estes são iniciados para aquele percurso de ascensão ao último céu. Chegada a alma ao sétimo e definitivo céu, agora já sem impurezas, passa a viver ali a felicidade beatifica sem fim.

Próximos entre si, o neopitagorismo (com suas purificações em céus intermediários e espíritos intercessores) e o cristianismo (com o seu purgatório preparador e a meditação de Jesus, dos anjos e santos) hostilizavam-se facilmente, ao mesmo tempo que se influenciavam mutuamente, sem que disto se apercebessem.

NEOPITAGORISMO E RELIGIÃO - Parte 03

A crença dos neopitagóricos na revelação foi um dos lados por onde o neopitagorismo estava próximo do judaísmo e do cristianismo.
Acreditavam os neopitagóricos numa intuição direta do inteligível (noetón), algo como uma revelação. A religião seria mais do que o conhecimento discursivo do entendimento e sensação, mas também um exercício sobrenaturalista. Entretanto, a doutrina pura é própria apenas dos indivíduos mais santos, que são tocados por ela como por uma graça. Isto se afirmava de Pitágoras e de Numênio, aos quais a divindade ter-se-ia revelado.
O misticismo pitagórico admite, pois, a revelação como um fenômeno ordinário e que é recebida sobretudo pelos espíritos mais adiantados. Deus contém as idéias (ou números). É interioridade consciente, que não pode conter imperfeição ou qualquer mal. Não exerce qualquer contato direto com o mundo material. Fá-lo por seres intermediários, como já ocorria com o Demiurgo de Platão, colocado entre as idéias reais e o mundo material. S
urge, pois, o Logos, (inteligência, ou verbo). Abaixo deles há outros e outros espíritos que servem de intermediação.

sábado, 5 de abril de 2008

NEOPITAGORISMO E RELIGIÃO - Parte 02

Versos de ouro
Há ainda uma série se escritos pseudos, atribuídos ao remoto Pitágoras. Entretanto, outra coisa não são que a tradição pitagórica codificada tardiamente, na fase neopitagórica dos primeiros séculos cristãos. Neste contexto surgiu a apreciável coletânea denominada Versos de ouro, um repertório de moral sentenciosa.
Acredita-se na afinidade entre os neopitagóricos e a seita dos judeus essênios, a cujo contexto esteve ligado Jesus de Nazaré. E assim desde o início houve um canal de influências do neopitagorismo sobre o cristianismo. Ocorreu também uma influência dos escritos neopitagóricos sobre os primeiros cristãos, por exemplo Eusébio de Cesaréia (séc. 4-o. ) autor de Preparação evangélica.
Esta influência se deu mesmo por causa da conversão de neopitagóricos ao cristianismo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

NEOPITAGORISMO E RELIGIÃO - Parte 01

Os primeiros neopitagóricos
Não há uma data precisa do início do neopitagorismo. Ele tem atrás de si uma tradição que remonta às ligas pitagóricas da velha Itália, do século 5-o. a.C., quando viveu Pitágoras (c. 570-496 a.C.). Sabe-se que os pitagóricos exploraram a doutrina dos números e que já praticavam os rituais de purificação.
O neopitagorismo aliou-se às transformações platônicas dadas à doutrina dos números e se concentrou sobretudo nas práticas de purificação, influenciando notoriamente às práticas religiosas de seu novo tempo. É nos conhecido como precursor do neopitagorismo, ou mesmo como primeiro neopitagórico, Nigídio Fígulo (+ 45 a.C.), amigo de Cícero e autor de uma obra sobre os deuses. Seguem-se, entre outros, Apolônio de Tiana (4-97 d.C.), escritor e pregador de uma nova religião, ao tempo do imperador Nero. De futuro serão os neopitagóricos aguerridos adversários dos cristãos. Celso, em 179, escreverá contra os cristãos um Discurso verdadeiro, ao qual responderá Orígenes, com um Contra Celso. Destruída pelos cristãos, a obra de Celso se conservou, embora fragmentariamente, nas citações e informações dos seus contestadores. Entretanto havia uma grande proximidade entre o neopitagorismo e o cristianismo. Numênio de Apaméia, também do fim do 2-o. século, foi de grande destaque no quadro dos pregadores do neopitagorismo. A ele e a Pitágoras teriam sido feitas revelações.
Já sob a influência do neoplatônico judeu Filon de Alexandria (c. 25 a.C. – c.50 d. C.) , apresentou uma doutrina de três deuses: o Supremo supra-sensível, o Demiurgo que põe forma na matéria, o Universo que ele formou. Plutarco de Cheronéia (45-125 d.C.), com atuação em Roma e Atenas, foi um pitagórico eclético com elementos platônicos e estóicos. Autor de várias obras, entre outras, Vida de homens ilustres da Grécia de Roma e Obras morais. Influenciou notavelmente ao mundo pagão e indiretamente ao cristão. Defendeu o dualismo do bem e do mal, com uma série considerável de intermediários.
Estes intermediários lhe possibilitaram dar lugar às divindades ocidentais e orientais, racionalizando a mitologia.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

MISTICISMO-RELIGIOSO NEOPITAGÓRICO E NEOPLATÔNICO

Um forte movimento místico-religioso ocorreu a partir do neopitagorismo e do neoplatonismo.
O moderado naturalismo helênico-romano foi contornado nos círculos religiosos, por um movimento, que caracterizou os primeiros séculos do início do milênio cristão. A sede principal do movimento estava em Alexandria, próspera desde que Alexandre Magno a fundara em 332 a.C., estava agora uma cidade ainda mais internacional, desde o ano 30 a.C., quando passou a integrar o Império Romano. O movimento místico religioso a que nos referimos, já vinha despontando no final do 1-o. século a.C., liderado pelos neopitagóricos, e logo também foi um poderoso movimento neoplatônico. Um e outro influenciaram as religiões da época, inclusive a judaica e a cristã.

Como se sabe, o pitagorismo e o platonismo, desde sua forma primeira na antiguidade grega se desenvolveram com mútua influência. Agora, neopitagorismo e neoplatonismo conservam afinidade, sobretudo no que concerne ao seu dualismo radical, opondo espírito e matéria, buscando salvar o espírito frente à matéria menosprezada pelos efeitos maléficos que lhe atribuem.

O que mais remotamente unia a todos estes pensadores de fundo religioso pitagórico e platônico, depois neopitagórico e neoplatônico, foi sua afinidade com o orfismo de origem oriental. A afirmação expressa de Platão sobre a superioridade da alma, com vida autônoma, nobre, elevada, aspiração à perfeição, purificação da matéria, separação em direção a um outro mundo, o fizeram preferido nos círculos mais populares, onde atuavam os religiosos ou místicos mais intelectualizados, em detrimento de Aristóteles e do naturalismo em geral.
Não chegou Aristóteles, mais cuidadoso e reservado, a declarações dualistas tão radicais, embora sua filosofia pareça melhor fundada.

A argumentação das filosofias neoplatônicas deste novo período não parece convincente. Tais filosofias alegam vagamente que a alma é, ao mesmo tempo, algo de elevado e de afundado na matéria.

Este afundamento na matéria ocorre todavia como em uma situação anormal. Deve, pois, a alma humana ser resgatada mediante práticas de salvação. Este quadro de perdição é o fundo da maioria das religiões, e que encontram agora nas filosofias neopitagórica e platônica o seu ideário teórico.

As doutrinas religiosas, como o zoroastrismo, e que já eram conhecidas no Ocidente pelo velho pitagorismo e pelo orfismo já presente em Platão, ganharam corpo, nesta fase do pensamento helênico-romano. Ainda que peculiares a todas as religiões primitivistas, os mistérios e purificações, visando uma salvação para o seu espírito, lograram nova força. Sobretudo o neoplatonismo se tornou, por isso, por excelência, a filosofia das religiões de caráter salvacionista, as quais passaram a proliferar.

Pela volta do século 1-o. a.C. as idéias trinitárias penetram na filosofia da religião, através do neopitagorismo e de diferentes formas de platonismo, de que o neoplatonismo de Plotino será um dos mais representativos.

O ser é apresentado como polivalente, e emanando um do outro. No alto se encontra o Uno, a seguir o Logos (a inteligência, ou o verbo), em terceiro lugar a Alma do mundo.

Finalmente derivavam as almas individuais e a matéria.

Por uma espécie de retorno mental, ou místico, se faz a marcha inversa, pela qual a alma humana finalmente se extasia em união com o Uno.

Criou-se uma filosofia, sobretudo através do neoplatonismo, de embasamento para as teologias trinitárias. Por isso mesmo adquiriu importância histórica o neopitagorismo, o neoplatonismo.
Didaticamente decorrem dali dois títulos representativos:
- Neopitagorismo e religião
- Neoplatonismo e religião