sexta-feira, 6 de junho de 2008

A Metodologia Tomista - Parte 03

2.2. Método metafísico
O Aquinate estabelece duplo método: um ascendente, denominado resolutivo -resolutio-, que parte das determinações particulares às resoluções universais, que não é outra coisa que a indução; e outro descendente, denominado compositivo -compositio-, que inversamente parte das resoluções universais às composições particulares, que não é senão a dedução.
(a) A simples apreensão: a simples apreensão defini-se como o ato por meio do qual o intelecto conhece alguma essência, na medida em que simultaneamente afirma ou nega, por cujo conhecimento produz-se o conceito. Em outras palavras, por apreensão simples entende-se o ato, por meio do qual, o intelecto apreende de modo absoluto, a seu modo e tornando o que apreende semelhante a si mesmo, algo do real . Por isso, o Aquinate, seguindo o que Aristóteles afirmara, denominou a simples apreensão de intelecção indivisível. Por intelecção indivisível entende-se a intelecção absoluta que o intelecto produz, por si mesmo, da qüididade de alguma coisa.
(b) O singular: O intelecto produz o conceito, a partir do que considera da realidade. Mas a realidade, fora da mente, apresenta-se em sua existência singular. O que é o singular? Por singular entende-se algo individual, de nenhum modo comunicável a muitos , cuja nota essencial é ser único e distinto de todos os demais , de tal maneira que não pode ser definido . Do que se segue, que o singular não é apto naturalmente a ser predicado de muitos, senão de um só, ou seja, de si mesmo . Neste sentido, o singular é o que pode ser mostrado, designado, apontado ou indicado com o dedo. Assim sendo, o intelecto apreende, por abstração, a natureza do singular, de um modo mental, universal e a expressa por um conceito. Mas o que é abstração?
(c) A abstração: Por abstração entende-se o ato de abstrair, que é o ato que o intelecto faz quando apreende e torna universal e semelhante a si mesmo, uma realidade singular que existe fora do próprio intelecto. Abstrair é separar de algo singular toda a sua materialidade e movimento . Neste sentido, a abstração significa o ato intelectual, por meio do qual o próprio intelecto torna inteligível o que ele considera e que existe fora da mente, de modo singular, sensível e individual. No ato do conhecimento, a abstração é o primeiro e mais nobre ato do intelecto, como sendo a sua mais perfeita operação . Em outras palavras, a abstração é o modo pelo qual o intelecto processa o conhecimento do real concreto, inclinando-se a ler por dentro - intus legere - a natureza, a essência do real concreto que ele considera, pois só abstraindo-a de sua sensibilidade pode ele conhecer a sua forma em ato , a sua natureza, já que para conhecer o singular é sempre necessário abstrair . Mas o que busca o intelecto? O intelecto quando abstrai busca considerar o singular em sua universalidade; busca, portanto, produzir uma representação universal do singular , ou seja, o intelecto produz uma similitude universal, inteligível do que no real existe de modo singular e material. Mas se o intelecto ordena-se a produzir, pela abstração, uma similitude universal do que considera do real, a primeira questão a saber é: o que é universal?
(d) O Universal: Etimologicamente, universal significa unum versus alia, um que se verte em muitos. Em seu significado real, universal é o que por natureza é apto a predicar-se de muitos . Ora, se o universal é o que é apto de predicar-se de muitos, isso significa que o que é universal é comum de muitos. Do que se segue, que universal e comum de muitos são sinônimos . Cabe frisar que o intelecto somente produz o universal por abstração , pois o intelecto, pela abstração, ao produzir o universal, concebe o conceito, a partir do qual se expressa a essência universal da coisa particular, que ele considerou. Assim, pois, algo é considerado universal não somente quando o nome predica-se de muitos, mas, também, quando o que é significado pelo nome, pode dar-se em muitos . Cabe, ainda, distinguir o universal lógico do universal metafísico: o universal considerado em si mesmo, em seu conteúdo real e metafísico, é o universal metafísico; o universal enquanto conceito universal, desde um ponto de vista de sua predicação, é o universal lógico . O universal lógico é real, porém abstrato . Face a isso, cabe saber o que é o conceito.
(e) O conceito: O conceito é fruto da concepção que o intelecto faz pela abstração, ao considerar a universalidade da natureza de algo singular. Por concepção entende-se, neste contexto da lógica, a geração ou a produção de um conceito, por parte do intelecto . Pela concepção o intelecto produz uma palavra ou verbo mental, no qual encontra-se a similitude inteligível abstraída da coisa concreta, sem que com isso se estabeleça uma identidade entre natureza que concebe e a natureza concebida, pois o que o intelecto produz é uma similitude do objeto real . O conceito é uma voz mental, cujo sinal sensível é um nome que indica certo significado . Por isso, aquelas simples concepções que são produzidas pelo intelecto são vozes mentais - palavras interiores - que significam alguma coisa . Alguns conceitos, por razão de sua universalidade, são mais abrangentes do que outros, como o conceito animal que é mais extenso do que o conceito homem, já que aquele se extende e se predica de mais realidades do que este. Ao contrário, o conceito homem é mais compreensível do que o de animal, porque é menos extenso do que aquele. Esta distinção, segundo a universalidade, é o que determina a extensão e a compreensão do conceito.
Exige-se, para a expressão do verbo mental, os sinais lingüísticos, que por meio de palavras, nomes e verbos expressam o conceito e o seu significado. A obtenção do conceito é o cume da aplicação do método indutivo tomista.

Um comentário:

Anônimo disse...

A linguagem era um dos pontos mais importantes para o Aquinate...