(c) A divisão do ente - o ato: o ente considerado em si mesmo, divide-se em ato e potência [In VI Met. lec.2, n.1171]. A noção de ato indica perfeição, pela qual alguma coisa existe [In IX Met. lec.3, n.1805]. O ato é dito de diversos modos [In IX Met. lec.5, n. 1828-1831]. Com relação à potência ele é anterior [In IX Met. lec.7, n. 1845], mas no que se refere ao movimento e ao tempo, ele é posterior [In VII Met. lec.2, n. 1278; IX, lec.7, n. 1847-1848; IX, lec.8, n. 1856; In XII, lec.4, n. 2480-2481; In XII lec.6, n. 2506]. O ato é sempre melhor que a potência, pois a sua privação é o mal [In IX Met. lec. 10, n. 1883-1885]; diz-se ato primeiro o ser de algo e ato segundo sua operação, que provém do ser. Daí que o operar segue o ser. - a potência: dupla é a potência, a potência ao ser que é da matéria e a potência de operar que é da forma [STh.I-II.q55,a2,c]. Diz-se potência ativa a de operar e potência passiva a de receber algo de outro [STh.I,q25,a1,c]. A potência ativa pode ser imanente, quando permanece no agente e transeunte, quando termina em outro [STh.I,q9,a2,c]. A potência da matéria é princípio de recepção do ser e a potência da substância é princípio de operação. A potência metafísica é a da ordem do ser, como a da matéria à forma. (d) O ser, a essência e a existência: - o ser - temos visto que o ente é o que tem ser [In XII Met. lec.1, n.2419], ato de ser [In IV Met. lec.2, n.556-558], perfeição, pela qual alguma coisa existe [In IX Met. lec.3, n.1805], subsiste e é o que de mais nobre [CG.I,c28,n260/In I Sent.d17,q1,a2,ad3], perfeito, digno e íntimo [De anim. a9/De nat. accid. c.1,n.468] há na natureza da coisa [In I Sent.d33,q1,a1,ad1], como ato de todos os atos [CG.III,c3;C.Theo.I,c.11,n.21] e ato de tudo o que existe e de qualquer forma que venha a existir [Quodl. XII,q5,a1/STh.I,q4,a1,ad3] como substância;- a essência - num primeiro sentido metafísico essência indica a natureza individual da substância e num segundo sentido, agora lógico, indica a qüididade ou essência abstraída pelo intelecto da substância individual. Então, a essência no primeiro sentido metafísico é sinônimo de substância e a essência no sentido lógico é sinônimo de qüididade, ou seja, a essência considerada como conceito, abstraída e na mente [STh.I,q3,a3,c].
Na consideração lógica a essência é o que o intelecto capta da união e composição de matéria e forma [STh.Iq29,a2,ad3]. Por isso, a essência na mente indica o que é comum de muitos [De ente et ess.c2]. Na consideração metafísica a essência é na própria substância a composição de matéria e forma.
Ora, na substância é a forma que dá o ser e é a matéria que o recebe. Em substâncias de mesma natureza é o mesmo ato de ser que determina a perfeição em todas. Mas as substâncias de mesma natureza se distinguem individualmente, umas das outras, pelo modo como recebem o ato de ser em seus supostos. Isto faz com que o ser seja distinto da essência na substância de cada coisa de que é ser. Pautado nisso, afirma-se que ser e essência distinguem-se nas criaturas. Só em Deus ser e essência se identificam [Comp. Th. I,XI]; - a existência - a exisência é o que resulta do último ato, do ato de ser, pois vimos que o ato de ser é aquilo pelo qual algo existe [In IX Met. lec.3, n.1805]. Neste sentido, sem ato de ser, não há existência. Podemos, então, dizer que a existência é a manifestação aqui e agora do ato de ser realizado na substância. A existência torna factual a presença da substância. Sendo assim, a distinção metafísica que há é a de ser e essência e não de essência e existência, posto que metafisicamente falando não há essência que não exista e existência que não tenha uma essência.
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