sexta-feira, 21 de março de 2008

A PESSOA HUMANA NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

Introdução

A pessoa humana pode ser estudada em suas mais diversas dimensões. Tudo no que se verifica uma influência humana é objeto para estudiosos e com isso temos a cada dia novas descobertas sobre o que somos, nossa trajetória, o que queremos, para onde vamos e como nos relacionamos com tudo e todos que nos cerca. Neste último aspecto dissolvemos a individualidade de cada um e passamos a nos referir a uma sociedade, que por sua vez, representa a pessoa média que a compõe. A partir disso é comum a comparação entre um indivíduo e a sociedade a fim de nortear as verdades da época.

Atualmente temos uma gama de informações gigantesca que permite a veiculação instantânea de opiniões, fatos e relatos que ocorrem em qualquer parte do mundo. Uma das alcunhas dadas à nossa sociedade atual é de “Sociedade da Informação”, na qual foi aprimorado o nível das telecomunicações, principalmente durante a Guerra Fria (1945-1989). Neste período houve o desenvolvimento das redes de computadores em velocidade alta, que mais tarde seriam comercializadas com o nome de Internet.

Outras mudanças de paradigma são encontradas principalmente durante o final do século XIX e todo o século XX, muitas das quais têm seus reflexos sentidos até hoje: o fim do sistema de produção escravagista, a urbanização das cidades, o aumento da população mundial, a mudança do papel da mulher na sociedade, a consciência ecológica e a globalização econômica, apenas para citar alguns exemplos. Some-se a estes fatos suas conseqüências, tais como a favelização das periferias das cidades, o surto de miséria e fome em muitas partes do globo, a deteriorização de valores como família e casamento, intolerância religiosa, aumento de violência urbana e expansão de capital especulativo em qualquer parte do mundo. Em contrapartida, o avanço tecnológico foi assombroso, trazendo melhorias na medicina, economia, astronomia, física, química e tantas outras ciências.

Diante deste quadro, que por sua alta velocidade tende a ser alterado antes que consigamos entendê-lo, muitas dúvidas e incertezas vêm ao pensamento das pessoas. Algumas se apegam aos vícios, outras às religiões, outras tentam acompanhar as mudanças, outras participam das mudanças e temos um cenário que contempla uma diversificação de interesses muito grande. Desta forma os regimes democráticos e capitalistas têm se sobressaído e são adotados na maioria dos países do mundo. Por outro lado acompanhamos ações ditatoriais de intervenção militar e religiões extremistas que polarizam a disputa pela hegemonia global.

Religiões mundiais

Neste ínterim a Antropologia Teológica surge a fim de questionar e refletir sobre o âmbito religioso das pessoas. É muito comum ouvir-se a afirmação de que “a situação atual é ruim, pois falta Deus no coração”. Há um certo fundamento nisso, pois pessoas mais espiritualizadas têm mais consciência de si mesmo e, consequentemente, dos outros, primando pelo diálogo e sabendo colocar-se perante seu ambiente e a micro-sociedade que a cerca.

As maiores religiões mundiais (Catolicismo, Judaísmo e Islamismo) a cada dia têm seus dogmas questionados e há claramente uma diminuição no número de praticantes, seja por novas descobertas da ciência ou pela constatação de que certos dogmas tiveram sua verdade no passado, mas hoje apenas trazem prejuízos àqueles que os praticam. Assim, cresce o número de igrejas, doutrinas e linhas teológicas das mais variadas premissas. Muitas são sérias, estudiosas e primam pela superação e evolução de seus seguidores; outras, apenas aproveitam o momento para manipulações políticas ou enriquecimento.

Outrora um tabu, hoje a discussão sobre religiões é mais aberta e, no caso específico do Brasil, mais tolerada e pacificamente vemos a convivência de pessoas e até famílias com orientações espirituais diferentes, ao contrário do Oriente Médio, por exemplo, no qual as guerras são históricas e sempre há notícias de violência nos choques entre os religiosos.

Auto-conhecimento

A sociedade moderna é repleta de transformações e informações, muita velocidade e necessidade de tomadas de decisões rápidas. Há um dito que sintetiza bem esse momento: “A pessoa humana vive como se não fosse morrer e morre como se não tivesse vivido”. Grande parte desse padrão de pensamento (e consequentemente das experiências vividas por cada um) tem suas raízes ligadas à religião e seus dogmas inquestionáveis, o que reforçou alienação capitalista do trabalho, na qual cada um faz sua parte mas não tem noção do todo e sequer o questiona. É muito comum ouvir-se que as coisas são assim “por que Deus quer”. Porém, esta visão está mudando. A cada dia percebe-se que é necessário o entendimento de todo um processo para que cada um faça sua parte responsavelmente. Neste período de globalização, qualquer erro de planejamento ou execução pode ressaltar em atrasos para outras entidades que estão relacionadas..

Falta às pessoas que se enquadram nesse padrão o diálogo interno e o auto-conhecimento. Este momento de paz, reflexão sobre o passado e realinhamento dos objetivos futuros pode ser encontrado através das religiões ou durante meditações ou mesmo com a ocorrência de idéias que aparecem aparentemente sem nexo causal (“insight”).

A cada momento, temos várias opções; de cada opção, temos escolhas; de cada escolha uma responsabilidade, afinal, seus desdobramentos serão encontrados no futuro. Cada escolha é dada pelas crenças pessoais, por isso o auto-conhecimento e a reflexão tornam-se necessárias para, inclusive, elevar a qualidade de vida de cada um; uma sociedade que é composta de pessoas responsáveis, conscientes e que constroem suas vidas na paz. Pode até soar utópico, mas é possível.

Conclusão

A sociedade moderna contempla uma série de rápidas mudanças que ocorrem nos últimos 150 anos. A pulverização do poder mundial, o aumento da população presente no globo, dentre outros fatores, contribuem para uma nova reorganização da pessoa humana neste contexto. A religião é um dos meios de auxiliar as tomadas de decisões diárias das pessoas, religando-as com Deus. Neste imenso oceano de informações, é possível encontrar as mais diversas vertentes religiosas e visões do que se constitui nosso Universo.

O auto-conhecimento permite uma posição crítica e filosófica perante todos os fatores que nos rodeiam, trazendo fortalecimento interno pessoal e uma postura de paz perante a Vida.

A sociedade moderna opta por ter poucos momentos para a reflexão interna, mas atualmente há um bom nicho da sociedade que está revendo seus conceitos, seus padrões de pensamentos e tornando-se mais tolerantes para com os que pensam de forma diferente. A abertura ao diálogo e o desapego às antigas crenças permitirão a construção de uma sociedade mais científica, mais evoluída e com menos choques culturais.


quinta-feira, 20 de março de 2008

[Livros]: O PRÍNCIPE - MAQUIAVEL - Parte 04

Os quatro capítulos seguintes (O que convém a um príncipe para ser estimado, Dos secretários que os príncipes têm junto de si, Como se afastam os aduladores e . Por que os príncipes da Itália perderam seus estados) abordam temas em comum, mostrando a forma como o governante deve se portar em relação às pessoas mais próximas de si.

O Capítulo XXV, “De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva resistir”mostra através de exemplos, concluindo com a célebre frase “A sorte, porém, como mulher, sempre é amiga dos jovens, porque são menos cautelosos, mais afoitos e com maior audácia a dominam.”

O último capítulo, “Exortação para procurar tomar a Itália e libertá-la das mãos dos bárbaros”, é a conclusão da obra, baseada nas exposições feitas durante a obra.

“para se conhecer a virtude de Moisés foi necessário que o povo de Israel estivesse escravizado no Egito, para conhecer a grandeza do ânimo de Ciro, que os persas fossem oprimidos pelos medas, e o valor de Teseu, que os atenienses estivessem dispersos, também no presente, querendo conhecer a virtude de um espírito italiano, seria necessário que a Itália se reduzisse ao ponto em que se encontra no momento, que ela fosse
mais escravizada do que os hebreus, mais oprimida do que os persas, mais desunida do que os atenienses, sem chefe, sem ordem, batida, espoliada, lacerada, invadida, e tivesse suportado ruína de toda sorte.”

Esse é o ponto de motivação para o inicio da reação italiana, fechando com o seguinte verso:

Virtude contra Furor
Tomará Armas; e Faça o Combater Curto
Que o Antigo Valor
Nos Itálicos Corações Ainda não é Morto.

quarta-feira, 19 de março de 2008

[Livros]: O PRÍNCIPE - MAQUIAVEL - Parte 03

Os cinco capítulos seguintes abordam a conduta do príncipe, através dos seguintes temas:

1 Daquelas coisas pelas quais os homens, e especialmente os príncipes, são louvados ou vituperados;
2 Da liberalidade e da parcimônia;
3 Da crueldade e da piedade; se é melhor ser amado que temido, ou antes temido que amado;
4 De que modo os príncipes devem manter a fé da palavra dada;
5 De como se deva evitar o ser desprezado e odiado.

Este trecho é marcado por grandes conclusões que até hoje em dia são ministradas em cursos sobre liderança empresarial. A máxima “é melhor ser temido do que ser amado”
pag 28

Em especial o capítulo sobre evitar ser desprezado e odiado, comum àquele que tentam impor-se pelo medo. Nele Maquiavel alerta que o governante deve evitar ser o rapace o usurpador de bens e das mulheres dos súditos. “Desprezível o torna ser considerado volúvel, leviano, efeminado, pusilânime, irresoluto, do que um príncipe deve guardar-se como de um escolho, empenhando-se para que nas suas ações se reconheça grandeza, coragem, gravidade e fortaleza; com relação às ações privadas dos súditos, deve querer que a sua sentença seja irrevogável; deve manter-se em tal conceito que ninguém possa pensar em enganá-lo ou traí-lo.” (pag. 33)

O Capítulo XX trata sobre o seguinte aspecto: “Se as fortalezas e muitas outras coisas que a cada dia são feitas pelos príncipes são úteis ou não”. Desarmar os súditos não é bom, ao contrário de armá-los, uma vez que estas armas passam a ser suas, tornando-os fiéis. Alguns exemplos são citados e outras frases são encontradas, tais como a seguinte: “O príncipe que tiver mais temor de seu povo do que dos estrangeiros, deve construir as fortalezas; mas aquele que sentir mais medo dos estrangeiros que de seu povo, deve abandoná-las.”

terça-feira, 18 de março de 2008

[Livros]: O PRÍNCIPE - MAQUIAVEL - Parte 02

O Capítulo IX aborda o principado civil e a necessidade de muita virtude ou muita fortuna, mais precisamente, uma astúcia afortunada, pois o povo não quer ser mandado e sequer oprimido pelos poderosos. Assim, três efeitos devem ser considerados: ou principado, ou liberdade ou desordem. A melhor forma é chegar ao principado com o favor popular, pois não haverá ninguém (ou, quem sabe, poucos) que não esteja preparado para obedecer.

A força dos principados é analisada no capítulo X. A Alemanha é abordada no seguinte trecho:

As cidades da Alemanha gozam de grande liberdade, têm pouco território e obedecem ao imperador quando assim querem, não temendo nem a este nem a outro poderoso que lhes esteja ao derredor porque são de tal forma fortificadas que todos pensam dever ser enfadonha e difícil sua expugnação. Na verdade, todas têm fossos e muros adequados, possuem artilharia suficiente, conservam sempre nos armazéns públicos o necessário para beber, comer e arder por um ano; além disso, para manter a plebe alimentada sem prejuízo do povo, têm sempre, em comum, por um ano, meios para lhe dar trabalho naquelas atividades que sejam o nervo e a vida daquelas cidades e das indústrias das quais a plebe se alimente. Têm em grande conceito os exercícios militares, a respeito dos quais têm muitas leis de regulamentação.
(págs 20/21)

O último tipo de principado é visto no Capítulo XI (Dos principados eclesiásticos). São aqueles sustentados pelas ordens religiosas e que possuem características bem marcantes:

Só estes possuem Estados e não os defendem; súditos, e não os governam; os Estados, por serem indefesos, não lhes são tomados; os súditos, por não serem governados, não se preocupam, não pensam e nem podem separar-se deles. Somente estes principados, pois, são seguros e felizes.
(pág. 21)

Os três capítulos seguintes (De quantas espécies são as milícias, e dos soldados mercenários, Dos soldados auxiliares, mistos e próprios e O que compete a um príncipe acerca da milícia(tropa) abordam a questão militar em relação ao príncipe. Notadamente é um fator de grande importância para a obtenção e manutenção da ordem dentro dos principados, sendo princípios fundamentais para os Estados “as boas leis e as boas armas”.

segunda-feira, 17 de março de 2008

[Livros]: O PRÍNCIPE - MAQUIAVEL - Parte 01

Esta obra foi escrita como um guia político para Lourenço de Médice. Este trabalho, porém, serviu como base para a ética de manutenção do poder vigente e é encontrada até hoje nos discursos de autoridades ao redor do mundo, justificando muitas decisões políticas.

O livro está dividido em 26 capítulos cujos títulos sintetizam muito bem o escopo de cada lição.

O desenvolvimento de suas idéias começam no Capítulo I que define de quantas espécies são os principados e de que modos se adquirem seguido pelos principados hereditários e dos principados mistos. Segundo Maquiavel, este último é o mais difícil de ser conquistado,
pois o novo príncipe precisa ofender os novos súditos com seus soldados, não podendo mais manter como amigos os que o puseram ali. Algo parecido ocorre quando se conquistam territórios com língua, costumes e leis diferentes, sendo necessária muita habilidade para esta façanha. Seguem alguns exemplos sobre essas conquistas, tais como Luis, Carlos (França), Papa Alexandre, César Borgia, Dario, dentre outros

O capítulo IV (Por que o reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra seus sucessores após a morte deste), mostra a importância de se manter a memória dos principados.

Capítulo V. De que modo se devam governar as cidades ou principados que, antes de serem ocupados, viviam com as suas próprias leis aborda as três formas de governo: através de sua ruína, habitando-o pessoalmente ou apenas cobrando-lhes tributo, criando aos poucos um governo.

Os três capítulos seguintes (Dos principados novos que se conquistam com as armas próprias e virtuosamente, Dos principados novos que se conquistam com as armas e fortuna dos outros e Dos que chegaram ao principado por meio de crimes) abordam o confronto entre os governos, sejam em nível unitário (crime simples) ou massivo (guerras mais longas). Grandes “príncipes” dotados de virtuosidade são citados, tais como Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu. Francisco Sforza e César Bórgia são citados como príncipes que atingiram este status através da virtude ou da fortuna. Alexandre é citado nestas passagens com grande veemência, como mostra o trecho a seguir.

Mas, quanto às futuras, ele tinha a temer, inicialmente, que um novo sucessor ao governo da Igreja não fosse seu amigo e procurasse tomar-lhe aquilo que Alexandre lhe dera; e pensou proceder por quatro modos: primeiro, extinguir as famílias daqueles senhores que ele tinha espoliado, para tolher ao Papa aquela oportunidade; segundo, conquistar todos os gentis-homens de Roma, como foi dito, para poder com eles manter o Papa tolhido; terceiro, tornar o Colégio mais seu o quanto possível; quarto, conquistar tanto poder antes que o pai morresse, que pudesse por si mesmo resistir a um primeiro impacto. Destas quatro coisas, à morte de Alexandre ele havia realizado três, estando a quarta quase terminada: porque dos senhores despojados ele matou quantos pode alcançar e pouquíssimos se salvaram; tinha conseguido o apoio dos gentis-homens romanos e no Colégio possuía mui grande parte; e, quanto à nova conquista, resolvera tornar-se senhor da Toscana, possuía já Perúgia e Piombino e havia tomado a proteção de Pisa.
(pág. 15)

A pessoa na sua totalidade


O ser humano pode ser visto a partir de váriso pontos, cada um enfocando determinados aspecto. Basicamente, podemos focar nossos estudos em quatro dimensões humanas: a biológica, a psíquica, a social e a espiritual.

A dimensão biológica refere-se à fisiologia humana, aos processos relativos ao corpo humano, sua mecânica, as reações químicas que ocorrem dentro das céluas, etc. A dimensão psíquica foca a alma ou mente humana, suas crenças, seus medos e desejos; a dimensão social vê o homem dentro de seu meio e sua relação com seus pares; por fim, a dimensão espiritual, movida pela fé, que permite ao homem comunicar-se com o Universo / Deus / Vida e obter pensamentos e resultados que aparentemente não possuem nenhum nexo causal biologico, psiquíco ou social.

A disciplina de Antropologia Teológica permitiu um amplo debate sobre vários destes aspectos, como o homem visto dentro da história, como eliminar a desvalorização humana dentro do capitalismo e quais as novas propostas para uma nova visão do homem.

Estes estudos nos proporcionaram ver o homem como Unidade e como Totalidade e, em um ambiente democrático, as mais diversas colaborações surgiram, todas importantes.

Do meu ponto de vista, o ser humano precisa assumir a responsabilidade por si. Não há vítimas neste mundo, há escolhas. Entrando em um plano espiritual, posso dizer que acredito que escolhemos nossos pais, nosso sexo, onde e quando vamos nascer, o nível social e todos os demais aspectos da nossa nova encarnação neste planeta. Assim, mister se faz que paremos de culpar os outros pelas nossas experiências, nossas escolhas e principalmente que aprendamos a amar-nos incondicionalmente; muitas pessoas afirmam categoricamente que seriam mais felizes SE fossem mais ricas, SE fossem mais magras, SE tivessem outra cor, SE isso, SE aquilo - isto é o amor condicional por si mesmo, que reflete imediatamente nos outros - só amo SE a pessoa for rica, SE for magra, SE for de tal cor, SE isso, SE aquilo. Porém Deus não errou com ninguém. Somos todos perfeitos da forma como somos e hoje somos o melhor que conseguimos ser. A tomada dessa consciência é importante para deixemos de ser abusáveis e possamos viver a plenitude da nossa vida.

A solidariedade cristã, baseada no "Ama teu próximo como a ti mesmo" foi muito deturpada e transformou-se em um clientelismo e um paternalismo que engessa as pessoas, tornando-as dependentes e incapazes. Não foi essa a idéia de Jesus, pois a Vida é um constante devir e devemos aprender a lidar com ela da melhor forma possível, evitando sofrimentos e doenças psicossomáticas.

O projeto do Ceuclar, abordado na Unidade III, é muito válido e hoje proporciona em minha classe o convívio entre as mais diferentes pessoas, das mais diferentes vocações. Há padres, pastores, carmelitas; policiais militares, pedagogos, empresários, liberais e comunistas. Tenho aproveitado muito os debates.

Concluindo, acho que chegou o tempo do ser humano olhar para o seu interior e começar um processo de auto-valorização, principalmente com o desenvolvimento da inteligência espiritual. Fazer suas reflexões, livrar-se das culpas que cada um um permitiu que lhe fossem impostas, remover as camadas de arrogância, pretensão e vaidade e abrir-se para a abundância do universo, vivendo em um estado de Paz Ativa que traga a comunhão com o Universo e com tudo que existe.

sábado, 8 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 08

6. Conclusão

A questão da mutabilidade e da imutabilidade dos seres é desde há muito tempo objeto de estudo da Filosofia. Parmênides e Heráclito iniciaram uma profunda reflexão sobre esta questão, que depois também foi desenvolvida por Sócrates, Platão e, mais concisamente, Aristóteles. Pelos nossos estudos, vimos que as mudanças são motivadas pela busca de algo que nos falta e torna-se uma constantes nos seres, porém a essência de cada um permanece.
A maior ou menor ênfase nas mudanças ocorre pelo ponto de vista do observador, que pode tanto verificar a mutabilidade quanto a imutabilidade dos seres. Recomendamos que o debate sobre a questão leve em conta sempre este fator.

sexta-feira, 7 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 07

5. Aristóteles
Este filósofo escreveu várias obras, na quais destacamos A Metafísica que sintetiza o pensamento de Parmênides e Heráclito.

5.1 A Metafísica
Obra de Aristóteles que recebeu este nome por estar “depois da física”, disposição dada por Andrônico de Rodes em sua coleção. Aborda, em seus 14 tomos, a questão do ser como ser, o princípio de suas causas e seus atributos essenciais. Antes de tudo, o ser é substância. Por substância entenda-se algo que só é igual a si mesmo e sua essência é individual e determinada. Nem todas as coisas existentes são substância, sendo que apenas Deus pode assim ser determinado.Aristóteles sintetiza o pensamento dos pré-socráticos na questão da mutabilidade e imutabilidade dos seres. Para ele, a mudança é intuitiva e pressupõe uma realidade imutável. Essa conclusão é obtida através dos conceitos de Ato e Potência, sendo o primeiro a forma real, efetiva e atual da coisa e a segunda, o que ela pode vir a ser. Quatro são as causas que podem levar algo de ato para potência:
  • Causa material – Refere-se à matéria de que é feita a coisa.
  • Causa formal – É o conjunto de características que dá sua forma;
  • Causa eficiente - refere-se ao agente que produziu diretamente a coisa.
  • Causa final – constitui o objetivo final das coisas ou das ações.

quinta-feira, 6 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 06

4.4 Menon
Este diálogo de Platão versa sobre a Virtude, em especial, a Virtude Política, sendo consideradas a glória, a fama e o poder como base para ela. Recorrendo à teoria da reminicência, Sócrates demonstra a Menon que um escravo de sua comitivita é capaz de encontrar, por si, algumas verdades da geometria. Assim, há uma recordação das Verdades Eternas, um dia contempladas por nossa alma.

4.5 O Banquete
Versa sobre o Amor. No diálogo com Agatão encontra-se a definição do Amor e por que ele move as pessoas. Amar o que não se está ainda certo de possuir, o que não se possui, é desejar conservar para o futuro o que presentemente se possui. Assim, todo o que se deseja, desdeja o inatual, o irreal, o que não tem e de que é indigente. O Amor é o amor de algo que ainda não se tem. Logo, o amor deseja o belo e o bom, e não e o tem. Assim, o amor sempre busca o que lhe falta. O Amor é o grande motor das ações humanas.

4.6 Fedro
É considerado o resumo da filosofia de Platão e aprofunda dos diálogos sobre o amor, iniciados em O Banquete. Como é possível à Filosofia, que é o amor à sabedoria, ser tomada pelo delírio? O diálogo entre Sócrate e Fedro elucida essa questão, pois é necessário que o homem saiba amar, tendo conhecimento da sua alma e das almas das outras pessoas.

quarta-feira, 5 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 05

4.2 A Apologia de Sócrates
Sócrates foi condenado injustamente pelo tribunal à pena de morte, acusado de corromper a juventude e não adorar alguns deuses da pólis. Pela tradição grega, os condenados à morte bebiam cicuta, um veneno que paralisava todo o corpo até à asfixia, e só o poderiam fazer após do pôr do sol.O diálogo mostra como a Filosofia questiona e põe em xeque o status quo vigente, permitindo a demonstração racional de valores e abrindo novos caminhos. Nas cabeças dos jovens, pode ter efeitos de mudança, o que não era bem visto pela elite dominante daquele momento. A questão da humanidade de Sócrates é apresentada em várias pontos, dentre eles destacamos: “Violais as leis escritas, como tiranos, eu as violo como um homem justo. Violais vossas leis por loucura, eu as violo por sabedoria. Obedeço as vossas leis quando elas se aproximam da justiça ou quando me parecem indiferentes. Desobedeço-lhes quando são injustas. Mas aquele que desobedece assim à lei é melhor que a lei.

4.3 Fédon
É considerado o mais popular dos diálogos de Platão, sendo o mais lido, mais citado e comentado. Versa sobre os últimos momentos de Sócrates no cárcere junto a oito amigos, no dia de sua execução.Para Sócrates, a filosofia é amar a verdade e a virtude; é desligar-se dos liames que prendem a alma ao corpo; é fugira as paixões que nascem da submissão dos sentidos. É considerada uma preparação para a morte.Após a morte, a alma toma um novo caminho. A questão da imortalidade é abordada através da Metempsicose (a crença na reencarnação da alma), que é provada através de quatro argumentos: a incompatibilidade dos contrários, o argumento da reminiscência , o argumento da simplicidade e o da sucessão dos opostos.

terça-feira, 4 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 04

4. Platão
Discípulo de Sócrates, deixou vasta obra com base em diálogos que ocorreram entre seu mestre e outros cidadãos gregos. Destacam-se A República, A Apologia de Sócrates, Fédon, Menon, Fedro e O Banquete.

4.1 A República
Diálogo entre Sócrates e Glauco que versa sobre a natureza da pólis. Consta de dez livros, cada qual versando sobre um determinado assunto.
  • Livro I é um debate desde a metafísica, o estado e política.
  • Livro II defesa de Sócrates em prol da justiça, a gênese das cidades, e o ideal de política.
  • Livro III, educação para jovens, com a importância da música e da ginástica. Valores, como coragem, também são salientados, pos formam o caráter do guardião.
  • Livro IV, bem estar dos guardiões, busca de uma felicidade em comum a todos os cidadãos, a felicidade do justo.
  • Livro V, A primeira se trata do ideal de vida comum dos guardiões, a segunda sobre a igualdade das mulheres, e a última sobre o ideal de político, onde Platão irá defender que o ideal para ser Rei é que esse seja um filósofo.
  • Livro VI a discussão é a metafísica, onde a tese seria a de que a multidão subverte os grandes vícios de um homem, e assim privando-o dos alimentos.
  • Livro VII contém a Alegoria da Caverna.
  • Livro VIII a administração perfeita da cidade e a corrupção.
  • Livro IX homem tirânico, descrito como o cúmulo do poderio corrupto e de desejos desregrados;
  • Livro X Retoma a crítica aos artistas e a defesa da justiça.

segunda-feira, 3 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 03

3. Heráclito
Heráclito, filósofo pré-socrático, afirmava que tudo está em constante movimento, em constante devir, sendo este o resultado do conflito dos opostos. O mundo vive em constante movimento. Escreveu “Sobre a Natureza”, obra na qual trata sobre a Verdade e a Opinião.
Afirma que toda mutação é ilusória, "O ser é tão pouco como o não-ser; o devir é e também não é". Seu pensamento é oposto ao de Parmênides. Em [EC] encontramos uma boa síntese e influência de Heráclito no pensamento ocidental contemporâneo:Se Anaxímandro explica as coisas a partir de sua transformação e de seu movimento; se ele se utiliza do conceito de apeiron como o movimento eterno, ilimitado, reservatório de forças e formas, Heráclito ampliará essa proposição a partir do conflito, da eterna mutabilidade e da “superação” final com a substituição. Heráclito, através de suas noções de temporalidade e de efemeridade, lança as bases para o anti-humanismo, para a doutrina da insignificância do homem e sua transitoriedade, negando-se a explicar, por exemplo, o universo a partir do homem ou o homem a partir do universo, já que, para ele, homem e universo não existem um sem o outro: macrocosmo e microcosmo, conforme Axelos, não passam de aspectos do cosmos global e único.
As posições de Heráclito foram destronadas num primeiro momento de predomínio do pensamento platônico-aristotélico na cultura ocidental mas foram recuperadas pelos filósofos contemporâneos mais significativos como Hegel, Nietzsche e Heidegger (...).Heráclito é, por fim, básico em todos os estudos (...) porque está na base do pensamento dos filósofos do movimento e do conflito (Hegel), da duração e do movimento (Bergson), e de todas as correntes que apostam na possibilidade de uma leitura do real – e talvez a única – se e somente se puder trabalhar com a dinâmica dos processos, com a investigação dos fatos comunicacionais em operação, com a busca da captura do vivo em comunicação, já que os outros, os processos mortos, já não podem mais ser catalogados como comunicacionais.A célebre frase de Heráclito que ilustra essa visão é: "não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Afinal, nós já seremos outra pessoa e água também".

domingo, 2 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 02

2. Parmênides
Parmênides de Eléia foi o primeiro filósofo a afirmar que o mundo percebido por nós é ilusório e sobre o qual formulamos nossas opiniões (doxas). Essa é a Via da Verdade (aletheia) na qual o Ser é, ou seja, é sempre idêntico a si mesmo,imutável, eterno, sendo apenas visível para nossos pensamentos. Já o não-ser é a aparência, visível aos sentidos. Em [CHAUI], encontramos as bases da argumentação.
Os argumentos da Escola Eleata eram rigorosos. Diziam:Admitamos que o Ser não seja uno, mas múltiplo. Nesse caso, cada ser é ele mesmo e não é os outros seres; portanto, cada ser é e não é ao mesmo tempo, o que é impensável ou absurdo. O Ser é uno e não pode ser múltiplo;Admitamos que o Ser não seja eterno, mas teve um começo e terá um fim. Antes dele, o que havia? Outro Ser? Não, pois o Ser é uno. O Não-Ser? Não, pois o Não-Ser é o nada. Portanto, o Ser não pode ter tido um começo. Terá um fim? Se tiver, que virá depois dele? Outro Ser? Não, pois o Ser é uno. O Não-Ser? Não, pois o Não-Ser é o nada. Portanto, o Ser não pode acabar. Sem começo e sem fim, o Ser é eterno;Admitamos que o Ser não seja imutável, mas mutável. No que o Ser mudaria? Noutro Ser? Não, pois o Ser é uno. No Não-Ser? Não, pois o Não-Ser é o nada. Portanto, se o Ser mudasse, tornar-se-ia Não-Ser e desapareceria. O Ser é imutável e o devir é uma ilusão de nossos sentidos.
O que Parmênides afirmava era a diferença entre pensar e perceber. Percebemos a Natureza na multiplicidade e na mutabilidade das coisas que se transformam umas nas outras e se tornam contrárias a si mesmas. Mas pensamos o Ser, isto é, a imutabilidade e a eternidade daquilo que é em si mesmo. Perceber é ver aparências.
Pensar é contemplar a realidade como idêntica a si mesma. Pensar é contemplar o to on, o Ser.Multiplicidade, mudança, nascimento e perecimento são aparências, ilusões dos sentidos. Ao abandoná-las, a Filosofia passou da cosmologia à ontologia.

sábado, 1 de março de 2008

MUTABILIDADE E DA IMUTABILIDADE DOS SERES - Parte 01

1. Introdução
A questão da mutabilidade e da imutabilidade dos seres vem sendo questionada desde os primórdios da filosofia grega. Parmênides e Heráclito já teciam reflexões profundas sobre o tema, sendo o mesmo também alvo da reflexão dos socráticos Platão e Aristóteles.
Afinal, os seres são mutáveis ou imutáveis? O que é algo, em sua essência? Os seres mudam ou apenas sua aparência é modificada? Estas questões ainda permeiam debates atualmente e mister se faz seu entendimento e disseminação.
Seguem os relatórios de algumas obras fundamentais dos pensadores citados e os pontos mais significativos relacionados ao tema.